Ao som da clássica canção “Bahia com H” (Denis Brean) – entoada pela cantora Jussara Silveira e, ao violão, pelo maestro Rafael Galeffi – o médico e professor Dr. José Ribamar Feitosa Daniel recebeu, emocionado, o Título de Cidadão Baiano, em concorrida sessão especial, na manhã desta sexta-feira (13), na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA). Também obá odofin do Ilê Axé Opô Afonjá, o homenageado, natural de Caxias, no Maranhão, foi saudado por todos, não apenas pelo trabalho na área da saúde, mas pela sua contribuição na valorização das tradições de matriz africana e pela luta contra a intolerância religiosa.
Os versos “Dá licença, dá licença meu senhor / Dá licença, dá licença pra Ioiô / Eu sou amante da gostosa Bahia porém / Pra saber seus segredos serei baiano também” legitimaram o momento, contagiando a plateia, formada, em sua maioria, por amigos e amigas de terreiro e da medicina, além de familiares. A honraria foi proposta pela deputada Fabíola Mansur (PSB), que contou a trajetória profissional de Ribamar, a partir da escolha em se mudar para Salvador, coincidentemente no dia do aniversário da cidade, em 29 de março de 1962, para estudar na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia.
“O jovem Ribamar, enquanto sobrevoava Salvador pela primeira vez, não imaginava que seria recebido como irmão pela sua gente e que, nesse convívio, preparava-lhe uma nova família, com muitos irmãos e filhos e, sobretudo, conheceria sua ‘mãezona’, a Mãe Stella, conheceria o Axé Opô Afonjá, seu egbé, e que ainda teria diversas outras mãezinhas que cuidariam dele, porque filho delas ele era”, discursou Fabíola Mansur, registrando que a Casa tem a honra de conceder o título “a quem já é, de fato, mas agora, de direito, cidadão baiano”.
“Meu coração de há muito aprendeu a bater no compasso dos atabaques do Axé Opô Afonjá”, disse o médico, confidenciando que ostentará o Título do Cidadão Baiano aonde quer que vá. “O que fez com que a ilustre deputada dirigisse seus olhos para mim, além da atividade médica mais que cinquentenária, foi meu envolvimento com o Candomblé. Foi o meu envolvimento com a Sociedade Cruz Santa do Axé Opô Afonjá”, disse Dr. Ribamar, dirigindo-se à deputada Fabíola Mansur e definindo seu pronunciamento como “uma singela declaração de amor a esse Estado que me fiz acolher como filho, que de há muito é meu e que agora, a partir de sua iniciativa, generosamente, me reconhece oficializado”.
Para a deputada federal Lídice da Mata (PSB), José Ribamar recebe “uma cidadania que ele já tinha no coração, na sua prática de vida, como profissional da medicina, e também como representante de uma religião de matriz africana”. Representando o governador Jerônimo Rodrigues, a secretária estadual de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos de Comunidades Tradicionais, Ângela Guimarães, ratificou que a homenagem “celebra, numa sexta-feira de Oxalá, a irmandade entre Bahia e Maranhão, representada na trajetória espiritual, de axé e de pertencimento do ogan que escolheu a Bahia”. Também fizeram uso da palavra, saudando o novo baiano, Juçara Lopes, integrante da Irmandade da Boa Morte e coordenadora nacional de Mulheres de Axé do Brasil, e o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), conselheiro Plínio Sodré.
A sessão especial contou ainda com a exibição de um vídeo com depoimentos de amigos do médico, além da excelente apresentação do Coral do Legislativo, regido pelo maestro Angelo Rafael, que executou os hinos da Bahia e o de Santo Antônio. Também participaram da solenidade, com assento na mesa, a secretária estadual de Assistência e Desenvolvimento Social, Fabya Reis; a vereadora de Salvador, Marta Rodrigues; a secretária de Política para Mulheres, Infância e Juventude de Salvador, Fernanda Lordello; Mãe Ditinha, do terreiro Ilê Axê Opô Afonjá; Dr. Jorge Cerqueira, representando a turma de Medicina da Ufba, do ano de 1968; além de Luisa Feitosa Daniel, Bárbara Pereira e a miss Brasil e miss Universo de 1968, Martha Vasconcellos – respectivamente, irmã e amigas do homenageado.